Entre 2006 e 2010, o uso de drogas matou 40.692 pessoas, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Desses, 84,9% foram vítimas do abuso de álcool e 11,3%, do tabaco. As duas substâncias responsáveis por 96,2% dos óbitos decorrentes do uso de substâncias químicas, são lícitas, enquanto a maconha, considerada ilícita pela legislação brasileira, nem é citada no relatório.
O deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ), candidato à reeleição, apontou, em entrevista ao site de notícias UOL, as deficiências referentes à política de drogas: "a política de guerra às drogas - além de não diferenciar o uso do abuso de drogas e nem reduzi-los, não regular o comércio, não controlar a qualidade das drogas que são vendidas, não recolher impostos, não impedir o acesso a elas dos menores de idade, gastar fortunas e matar milhares de pessoas a cada ano - também envia milhares de jovens para os presídios", disse.
Segundo a ONU, a cannabis é a droga consumida por 80% dos usuários de ilícitos, o que levanta um questionamento sobre sua legalização. Assim como Jean, outros candidatos defendem a bandeira da legalização em suas campanhas políticas. Esse é o caso do também postulante ao cargo de deputado federal, Chico Alencar (Psol-RJ). Para o candidato, o que deve orientar a visão de política de drogas é a visão da vida saudável.
"Temos que reconhecer, assim como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que a guerra às drogas no mundo deu errado. Ela só favoreceu a indústria de armas. O armamentismo, que hoje, junto com as drogas ilícitas é a quarta movimentação de capital do mundo e ampliou o número de dependentes químicos e o tráfico armado. Temos que fazer um combate racional e pedagógico", afirma, inteirando que "manter uma droga leve, como a maconha, na ilegalidade, é um estímulo ao tráfico”.
Essa opinião, no entanto, não é compartilhada por todos. Em uma coluna no site UOL, o deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS) argumenta que aproximadamente 40 milhões de pessoas são dependentes químicos do álcool e do tabaco, justamente por serem legais. "As drogas ilícitas não chegam à sexta parte disso. Se liberadas, ultrapassariam, facilmente, os 40 milhões de dependentes. Alguém duvida?", questiona o peemedebista.
No entanto, sim, algumas pessoas duvidam, como a produtora Marcelle Fernandes Ferreira. Para ela, o principal fator para não se legalizar a maconha no Brasil é o preconceito e a falta de informação. "Preconceito porque ela era utilizada pelos escravos em rituais e em momentos de descontração, e os 'donos' os taxavam de vagabundos. Falta de informação é autoexplicativo", comenta. Mesmo defendendo a legalidade, ela não tem perspectivas de mudanças na legislação atual. "Sinceramente, não vejo funcionar no Brasil nenhum tipo de legalização porque nada é organizado. Teria que ser passo a passo, tipo o Uruguai, permitindo, primeiro, o uso medicinal e depois para recreação", opina.
Apesar do ceticismo da jovem, Chico Alencar vê o tema de uma perspectiva mais próxima. Para ele, a política deve se alterar em aproximadamente cinco anos, podendo ser até através de um plebiscito, debatendo e discutindo. Alencar lembra que o passo preliminar, que é o debate de um tema antes demonizado, já está sendo dado. "Não pode ser no oba oba, e nem podemos aceitar que se confunda isso com apologia ao uso de drogas. Infelizmente, embora alguns setores conservadores estejam em uma posição de fechamento total, a discussão está se abrindo", além disso, ele explica que o processo será lento porque "depende da legislação, e leis mais polêmicas demoram a ser aprovadas".
Outra polêmica em torno da erva é seu poder viciante, ou não. A revista Superinteressante, em uma matéria publicada em 2009 referente ao tema, mostra que, de acordo com o psiquiatra Dartiu Xavier, então coordenador do Programa de Atenção a Dependentes Químicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), algo em torno de 6 e 10% dos usuário que experimentam a erva pela primeira vez acabam se viciando. O número representa menos que a metade do verificado entre usuários de álcool e tabaco, e menos que um décimo da taxa estimada para heroína.
O psicólogo e estudante de jornalismo, Fábio Peixoto, acredita no poder viciante da maconha por seus componentes químicos, assim como o cigarro, álcool, outras drogas, medicamentos controlados, e psicoterápicos que também causam vício. “A droga começa a atrapalhar a vida da pessoa quando ela começa a prejudicar as atividades do dia a dia da. Se ela se prejudica por estar sobre o efeito da droga, ou procurando por ela, nessa parte ela tende a observar se está fazendo bem a ela, ou não, e se deve fazer algo a respeito, ou não”, aponta. Para ele, o fato de ser proibida não incentiva a pessoa a procurar a droga, porque elas procurariam mesmo se fosse legal, pelo seu fácil acesso.