terça-feira, 23 de setembro de 2014

A pauta do dia



Entre 2006 e 2010, o uso de drogas matou 40.692 pessoas, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Desses, 84,9% foram vítimas do abuso de álcool e 11,3%, do tabaco. As duas substâncias responsáveis por 96,2% dos óbitos decorrentes do uso de substâncias químicas, são lícitas, enquanto a maconha, considerada ilícita pela legislação brasileira, nem é citada no relatório. 

O deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ), candidato à reeleição, apontou, em entrevista ao site de notícias UOL, as deficiências referentes à política de drogas: "a política de guerra às drogas - além de não diferenciar o uso do abuso de drogas e nem reduzi-los, não regular o comércio, não controlar a qualidade das drogas que são vendidas, não recolher impostos, não impedir o acesso a elas dos menores de idade, gastar fortunas e matar milhares de pessoas a cada ano - também envia milhares de jovens para os presídios", disse. 

Segundo a ONU, a cannabis é a droga consumida por 80% dos usuários de ilícitos, o que levanta um questionamento sobre sua legalização. Assim como Jean, outros candidatos defendem a bandeira da legalização em suas campanhas políticas. Esse é o caso do também postulante ao cargo de deputado federal, Chico Alencar (Psol-RJ). Para o candidato, o que deve orientar a visão de política de drogas é a visão da vida saudável. 

"Temos que reconhecer, assim como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que a guerra às drogas no mundo deu errado. Ela só favoreceu a indústria de armas. O armamentismo, que hoje, junto com as drogas ilícitas é a quarta movimentação de capital do mundo e ampliou o número de dependentes químicos e o tráfico armado. Temos que fazer um combate racional e pedagógico", afirma, inteirando que "manter uma droga leve, como a maconha, na ilegalidade, é um estímulo ao tráfico”. 

Essa opinião, no entanto, não é compartilhada por todos. Em uma coluna no site UOL, o deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS) argumenta que aproximadamente 40 milhões de pessoas são dependentes químicos do álcool e do tabaco, justamente por serem legais. "As drogas ilícitas não chegam à sexta parte disso. Se liberadas, ultrapassariam, facilmente, os 40 milhões de dependentes. Alguém duvida?", questiona o peemedebista. 

No entanto, sim, algumas pessoas duvidam, como a produtora Marcelle Fernandes Ferreira. Para ela, o principal fator para não se legalizar a maconha no Brasil é o preconceito e a falta de informação. "Preconceito porque ela era utilizada pelos escravos em rituais e em momentos de descontração, e os 'donos' os taxavam de vagabundos. Falta de informação é autoexplicativo", comenta. Mesmo defendendo a legalidade, ela não tem perspectivas de mudanças na legislação atual. "Sinceramente, não vejo funcionar no Brasil nenhum tipo de legalização porque nada é organizado. Teria que ser passo a passo, tipo o Uruguai, permitindo, primeiro, o uso medicinal e depois para recreação", opina. 

Apesar do ceticismo da jovem, Chico Alencar vê o tema de uma perspectiva mais próxima. Para ele, a política deve se alterar em aproximadamente cinco anos, podendo ser até através de um plebiscito, debatendo e discutindo. Alencar lembra que o passo preliminar, que é o debate de um tema antes demonizado, já está sendo dado. "Não pode ser no oba oba, e nem podemos aceitar que se confunda isso com apologia ao uso de drogas. Infelizmente, embora alguns setores conservadores estejam em uma posição de fechamento total, a discussão está se abrindo", além disso, ele explica que o processo será lento porque "depende da legislação, e leis mais polêmicas demoram a ser aprovadas".

Outra polêmica em torno da erva é seu poder viciante, ou não. A revista Superinteressante, em uma matéria publicada em 2009 referente ao tema, mostra que, de acordo com o psiquiatra Dartiu Xavier, então coordenador do Programa de Atenção a Dependentes Químicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), algo em torno de 6 e 10% dos usuário que experimentam a erva pela primeira vez acabam se viciando. O número representa menos que a metade do verificado entre usuários de álcool e tabaco, e menos que um décimo da taxa estimada para heroína.

O psicólogo e estudante de jornalismo, Fábio Peixoto, acredita no poder viciante da maconha por seus componentes químicos, assim como o cigarro, álcool, outras drogas, medicamentos controlados, e psicoterápicos que também causam vício. “A droga começa a atrapalhar a vida da pessoa quando ela começa a prejudicar as atividades do dia a dia da. Se ela se prejudica por estar sobre o efeito da droga, ou procurando por ela, nessa parte ela tende a observar se está fazendo bem a ela, ou não, e se deve fazer algo a respeito, ou não”, aponta. Para ele, o fato de ser proibida não incentiva a pessoa a procurar a droga, porque elas procurariam mesmo se fosse legal, pelo seu fácil acesso.


13 comentários:

  1. muito bom o texto! só faltou citar o grande renato 5 candidato a deputado federal pelo psol. grande defensor das minorias e contrário a guerra aos pobres

    ResponderExcluir
  2. Parabéns pelo texto bitch Bárbara, adorei. Super concordo com o uso para fins medicinais, apenas!

    ResponderExcluir
  3. Acredito que estamos vivendo uma época perfeita para a reflexão de diversos assuntos, mas ainda acho cedo para mudanças significativas. Algumas até podem acontecer, como a questão da sexualidade, que vem ganhando força com o passar dos últimos anos, entretanto o mesmo grupo repressor e conservador dos costumes e da "família" faz de tudo para fechar os olhos de seu rebanho, conduzindo-o à ignorância desses assuntos e a aceitação de apenas uma suposta verdade.

    ResponderExcluir
  4. ótimo texto! Mas mantenho minha postura contrária, por inúmeros motivos que caberiam em outro texto.

    ResponderExcluir
  5. Resumindo em grande parte a minha postura diante dessa questão:
    Acho que em ano de eleição, ela é um dos principais atributos de que candidatos se adquirem nas campanhas, e, pessoalmente detesto sair da faculdade e receber um panfleto de candidato falando que apoia a "liberação" da maconha. Me sinto pessoalmente ofendida.
    Não sou contra a liberação, mas me ofende imaginar que tem gente pensando que somos otários a ponto de votar em alguém que passa a imagem de "descolado", porque compartilha das mesmas questões dos jovens.
    Também não estou dizendo que apoiar a liberação em esfera política seja errado. Porém, ao mesmo tempo, faço das palavras do psicólogo as minhas. Acho que a maconha é realmente um fator de forte influência na produtividade das pessoas. Assim como outras drogas, queiram chamar de drogas ou não.
    Não tenho problemas com a maconha, não ligo que fumem maconha do meu lado, posso fumar quando estiver afim, mas não é um movimento com o qual eu preciso necessariamente me preocupar.
    Assim como outras pessoas que fumam e não tem a menor dificuldade de comprar, nem se importam se estão sofrendo preconceito ou não.
    Não queria levar tanto para o pessoal, mas a minha opinião é tudo que eu posso dizer sobre esse assunto... rs

    ResponderExcluir
  6. Genial! Melhor momento para esse texto!

    ResponderExcluir
  7. Lembro de ler na Superinteressante que, se você for pego consumindo maconha, fica nas mãos do policial o que fazer para punir. Mas, se encontram um pé de cannabis na sua casa, é prisão certa. Ou seja: quem não quer contribuir com o tráfico acaba se dando pior do que quem financia essa indústria que mata. Mais uma das anti-lógicas que imperam no Brasil...

    ResponderExcluir
  8. Muito bom o texto, Babis! Parabéns :)

    ResponderExcluir
  9. nao li tudo por preguiça, rs
    mas (julgue minha ignorancia), acho que o brasil tem milhares de coisas pra deixar em vogue em eleicoes, a legalizacao da maconha parece um assunto frivolo e secundario demais pra ser tratado como importante

    ResponderExcluir