A
maior polêmica em relação a drogas gira em torno da liberação da maconha, que
vem sendo debatida em diversos países. De acordo com o desembargador da 17ª
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), Wagner Cinelli, há bons
argumentos de ambos os lados, e o ponto favorável à legalização seria o de
“mudar a lógica da realidade atual. Ou seja, a maconha, mesmo sendo considerada
uma droga mais leve, é distribuída na clandestinidade, a fomentar toda uma rede
criminosa. Além disso, contribui para a existência de uma corrupção policial”.
Quem
conhece de perto o mundo das drogas é J. A., de 22 anos. Usuária desde os 19, a
gerente júnior de projetos esportivos está largando as substâncias químicas por
conta própria. Para ela a legalização não aumentará o consumo. “Quem está
dentro desse universo sabe o quão fácil é o acesso para quem procura. Dessa
forma, não encaro a legalização como um problema no que diz respeito ao aumento
do consumo. Quem consome vai continuar consumindo. E, quem não, apenas terá
acesso lícito no caso de um eventual interesse”, explica. Para ela um problema
é que “tem gente que consegue fazer uso recreativo, tem gente que acha que
consegue e tem gente com tendência a apresentar dificuldade de controle com
qualquer tipo de droga, trazendo para o dia a dia, seja em pequena ou grande
escala”.
Para
a diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas
(Nepad), Ivone Ponczek, o usuário deve ser descriminalizado e despenalizado,
pois “ele tem que ficar atrelado à área de saúde, e não ser tratado pela
justiça ou ser tratado como delinquente”. Ivone, no entanto, afirma que a
liberação de drogas mais pesadas, como o crack, deve ser discutida com calma.
“A liberação deve ser discutida entre os grupos a favor e contra, mas não deve
polarizar, deve abrir o diálogo entre todas as opiniões. Por exemplo, se pode
dar morfina, que é uma droga pesada, terapeuticamente, por que não a maconha,
que é usada para fins medicinais?”, questiona.
O
Nepad possui um trabalho voltado para as famílias dos dependentes químicos,
onde recebem orientação capaz de mudar a dinâmica familiar. Ivone também
explica que, nesses casos, é importante que a família de um dependente químico
abra o jogo e explique que estão preocupados, tentando convencê-lo, dessa
forma, a procurar ajuda, sem fazer nada forçado.
“O
tráfico ilegal tem efeitos terríveis, porque cria um alto preço da droga
ilegal. Com isso, o lucro
de quem participa desse comércio ilegal aumenta muito, e por isso eles têm uma
capacidade corruptora enorme”. Por esse motivo, a antropóloga da UERJ, Alba
Zaluar, se diz a favor da legalização. Ela afirma que os órgãos públicos devem
realizar uma campanha de conscientização. Para ela a proibição é
inconstitucional, pois fere os princípios do livre arbítrio. A mesma opinião é
compartilhada pelo sociólogo da UERJ, Ignácio Cano, que afirma que “com a
criminalização o livre arbítrio deixa de existir, o Estado não pode prender
alguém que tenta cometer suicídio, por exemplo, então ele também não deve
interferir na vontade da pessoa de usar essas substâncias”, opina.
Interessante a argumentação do texto. Esse debate em torno da regulamentação do comércio e do consumo de maconha é de extrema importância. Não podemos e não devemos fugir desse debate. A política de guerra às drogas, disfarçada de guerra aos pobres, fracassou. Um fracasso retumbante. Os grandes traficantes vivem livres, usufruindo dos dividendos que o comércio obscuro de drogas lhe concedeu. Ao passo que milhares de jovens, em geral, negros e pobres, morrem anualmente nas periferias do país. Isso tem que acabar. Basta de guerra aos mais pobres! Legalização da maconha JÁ!
ResponderExcluirSou a favor da legalização! E concordo com J.A., quem acaba se tornando dependente da maconha seria dependente de qualquer outra droga que utilizasse. Mas com a maconha tem esse estigma bizarro
ResponderExcluirAdorei o exemplo do livre arbítrio. Nunca havia pesado em como o relacionamento com as drogas é um vínculo completamente pessoal e individual, quando não articula a criminalidade. Ao longo dos séculos pós idade média, libertamos gradativamente os corpos dos indivíduos. Estamos perto de atingir o ápice dessa liberdade, quando o Estado não mais intervir no que fazemos ao nosso corpo. Pela legalização da liberdade individual drogas, aborto, transsexualidade...
ResponderExcluirTambém sou a favor da legalização e acho que esse assunto ainda deve ser muito debatido para abrir a mente de algumas pessoas.
ResponderExcluirSinceramente vejo a argumentação sem razão essa de que a legalização aumentaria o consumo. É muito usada por quem é contra apenas por desrespeitar a liberdade individual de escolhas, ser-contra-o-uso-e-acabou. A legalização não tem uma relação com a questão da saúde pública tão intensa quanto sua relação político-social. O que muda de verdade não é taxa de consumo, mas sim o sistema entranhado de corrupção na política e instituições importantes na sociedade por conta dos esquemas do tráfico ilegal. Busca-se tirar um poder que interfere na estrutura da sociedade negativamente. A legalização é positiva.
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